Essa coisa de que o tempo nos molda e nos traz a serenidade dos anos que correm não passa de uma valente treta. O tempo, quanto muito, refina-nos. Aperfeiçoa o que somos e o que trazemos em nós. A perfídia e a barbárie não desaparecem, os ímpetos e os tumultos não soçobram e a instabilidade marcada no código genético não esmorece. Tal como a ânsia e o desassossego. Tal como o amor desmedido, o medo desmedido, a agitação desmedida. O estar e o partir, o querer muito e o rejeitar em absoluto. A felicidade desmesurada e a agonia excessiva. Assim, numa fracção de segundos. O tempo não molda ninguém. Muito menos quem nasce com uma bomba relógio dentro do peito.