Hoje, ao rever “Elegy”, de Coixet, dei por mim a pensar se, anos depois, ao encontrar-me na mesma posição que Consuela eu voltaria a ligar-te. Não. Não voltaria. Não porque não fosses tu o destinatário certo daquele telefonema, não porque não fosse teu o único abraço capaz de espantar o medo, mas porque eu seria incapaz de te levar a reviver, através de mim, o que passaste com a tua mãe. E por isso mesmo, o teu telefone não iria tocar, tu nunca saberias e eu haveria de passar por toda aquela enfermidade sozinha. Não porque não fosses tu o destinatário certo daquele telefonema, não porque não fosse teu o único abraço capaz de espantar o medo. E isto, isto tem um nome. Chama-se amor. Mesmo quando nos consome, mesmo quando nos corrói, mesmo quando nos amarga, mesmo quando lhe sentimos a falta, mesmo quando já nada há a fazer. Chama-se amor.