É recorrente ouvir-se dizer por aí que na vida tudo tem solução, que só a morte não tem remédio, que um dia tudo volta a ser como dantes, que atrás de tempos vêm tempos. Mas não. Há coisas que não voltam a ser como dantes, coisas que não têm remédio nem solução. Coisas que se partiram, que se perderam e sem conserto algum. E é esta irreversibilidade que, de tempos a tempos, me consome e me agasta. Porque apesar de ter sido esse o acordo feito, não é suposto, não faz qualquer sentido, que duas pessoas que viveram o que nós vivemos não consigam estar juntas e passem uma vida inteira sem se voltar a ver. Só que de mãos dadas com o irreversível anda sempre a contradição e não raras vezes dou por mim a trautear baixinho “Yo no sé que hacer contigo. Ni te tengo ni te olvido”. E depois a razão, esta mania de racionalizar tudo, diz-me que, entre o irreversível e a contradição, aquele pode não ter sido o melhor acordo mas foi, pelo menos, o acordo possível. E, vai-se a ver, não é suposto pessoas como nós, com uma história como a nossa, voltarem a encontrar-se por aí.