Não. Ninguém consegue ter uma ideia sequer do que se sente quando, aos poucos, se começa a esvaziar as estantes de uma casa. Do nó que se instala na garganta de cada vez que se atribui um valor a algo tão pessoal quanto um livro e das lágrimas que já me caíram pela cara abaixo sempre que encontro partes do meu passado enfiadas, esquecidas ou arrumadas, no meio das páginas que vou folheando. Eu habituei-me, desde muito cedo, a levantar-me do chão sozinha. Aprendi a ser perseverante, constantemente constante, a confiar e a entregar-me ao tempo, a esse tempo que simultaneamente nos vai construindo e destruindo. Por isso não me perguntem se tenho a certeza. Porque esta certeza que tenho é tão real quanto o vazio que se vai instalando por aqui.