19/04/2010

De vez em quando Almodóvar bate-me à porta. Entra e senta-se no sofá. Instala-se entre mantas e vinho tinto com o gato pendurado no colo que acaricia vagarosamente. Falamos de mulheres aguilhoadas e amordaçadas a um amor que já não volta mas que ainda não partiu, nem se sabe se algum dia partirá. Falamos de gente amachucada que aparentemente se ergue, gente que dá, parte e reparte toda a sua vida porque pensar e cuidar dos outros nos distrai de nós. Falamos de vazios que se instalam, de cheiros inesquecíveis e de corpos arrebatados, de olhares inolvidáveis, de beijos vorazes e de abraços desfeitos. No fim, despedimo-nos. Ele vai à vida dele e eu fico-me com a minha.