05/05/2013

A minha mãe, a minha verdadeira mãe, morreu tinha eu vinte seis anos. Lamento dizer-te mas tu não és nem nunca serás um décimo da mulher que ela foi. Com muita pena minha, confesso. Mas as coisas são como são. Nunca percebeste que a consanguinidade não é condição de afecto. Nem aqui nem em lado nenhum do mundo. E que não raras vezes as pessoas recebem no fim da vida parte do que deram ou não deram aos outros. No fim de tudo fica uma espécie de respeito que se reflecte numa espécie de dever. Apenas isso. Sem gratidão, sem boas memórias, sem afectos dos bons, com a certeza de que há incompatibilidades irremediáveis. Tu conseguiste gravar-me na pele o pior de mim. Este lado obscuro, instável, pérfido, desequilibrado,  que tenho de gerir todos os dias. É suposto agradecer-te o quê, diz-me.