Não tem mal absolutamente algum as pessoas viverem em estado de ilusão. Criarem um modelo ficcionado de qualquer coisa e viverem em conformidade com isso. Por mim tudo bem. Agora poupem-me, sim, poupem-me. Porque uma coisa é vocês de um momento para o outro acharem que somos todos uma família fantástica, maravilhosa, com muito amor para dar, onde sempre houve harmonia, blá blá blá, outra é pedirem-me para fazer um delete à memória. Nós não somos, nunca fomos, muito provavelmente nunca seremos uma família fantástica, maravilhosa, com imensa harmonia e muito amor para dar. Lamento. Somos gente com um passado em comum, sim, do qual nem sempre guardo as melhores recordações, há que dizê-lo, que por acaso temos uma ligação de consanguinidade. E por isso, e só por isso, é que continuamos a relacionarmo-nos. Ora consanguinidade não é condição de afecto. Nem aqui nem em lado nenhum do mundo. Lamento.