20/07/2011


Ai melhér, cala-te. A semana passada fui apanhar a última dose da vacina que me faltava. Uma fortuna, caralho, uma fortuna. Duas tomas de encefalite japonesa, mais três contra a hepatite A e B, mais uma contra a tifóide [ou lá que coisa era aquela] e dá cá quase quatrocentos euros, credo. Saí do Curry Cabral com os bracinhos ao peito e verde com o aumento que as vacinas levaram.

O saco dos drunfos está mais do que preparado com as correspectivas cópias das receitas que eu não estou para ter ataques de nervos em Singapura, não vá aquela gente pensar que ando no tráfico do Ben-uron. Quanto a cigarros, tudo bem. É verdade nem te contei, andei aí numas consultas de grupo, do tipo: olá o meu nome é Maria e fumo há vinte anos e depois a malta bate toda palmas e troca experiências e eu a papar um filme daqueles só para ter direito à receita dos comprimidos maravilha que, filha, aquilo é uma alegria, tira-te a vontade de tudo. Andas assim um bocado, como é que te hei-de explicar, assim um bocado alienada sabes, mas muito bom mesmo. O médico ficou de me acompanhar via e-mail e temos página do grupo lá no FB e tudo. Diz que o apoio do grupo é importante mas eu só te digo aqueles comprimidos, eh pá, do melhor. A vida fica assim uma cena toda muito zen, toda muito bonita. Interessante aquilo. Bem vês, ando a fumar um cigarro por dia e nem sempre.

Ontem quando fui ver do gato, tinha a minha amiga em pânico, coitada. Pois que o bicho se tinha atirado para cima de uma móvel alto, mas alto que nem estás bem a ver, e todo o santo dia não houvera saído dali. Vai de pegar num escadote grande e anda cá pequenino lindo da dona e vai de encostar o gato ao peito e descer por ali abaixo. Ai mulher, olha, trocaram-se-me os pés, nem sei como, e atirei-me do escadote abaixo. O gato assustou-se, foda-se, e naquela aflição começou a amarinhar por mim acima. Bem, do pescoço à cara passando pelas mamas, arranhou-me toda. Até o cu, pá. Até o cu tenho arranhado e ainda estou para saber como. Ando para aqui torcida de uma perna, cheia de nódoas negras, que eu ontem quase que me matava. Agora imagina, os exames médicos que seguiram para Genebra, tudo ali em condições e, agora, apareço lá eu coxa, toda negra e arranhada. Vai ser lindo.

Hoje fui jantar a casa dos pais queridos já para me despedir com calma porque entre quarta e quinta-feira vai ser tudo a correr. Mãe querida continua a revirar os olhos e a dizer que nós [leia-se eu e o meu irmão] a queremos matar. Que anda uma pessoa a criar filhos para depois estes abalarem, que não é justo e que depois de morta já não precisamos de voltar a Portugal. Posto isto, espetou-me com aspirinas e analgésicos e anti-inflamatórios e comprimidos que eu nem sei para que servem mas enfim.

Pai querido está assim a modos que amuado porque fui logo avisando que não queria ninguém no aeroporto às cinco da manhã e que não havia cá filmes da despedida para a posteridade. Enquanto comíamos as ovas com o feijão verde só me dizia: pronto então vais lá para Timor, não é. Se quiseres podes dar notícias. Mas vê lá se não te der muito trabalho.

Podia ter-lhe dito que em caso de morte os tipos lá da ONU põem o caixão à porta e nem cobram factura mas também achei que não valia a pena. Estávamos já na sobremesa quando fiquei a saber que mano querido comunicou que vai casar para o ano [coisa que por si só causará uma úlcera nervosa na nossa mãe]. É oficial, vamos internacionalizar a família com a checa.

De resto, sempre a correr para deixar uma série de coisas tratadas, a fazer malas e a rever mentalmente tudo para não me esquecer de nada e sexta-feira lá vou eu miúda: Lisboa – Frankfurt – Singapura – Díli. Se tudo correr bem e não houver atrasos serão dezanove horas entre aviões e aeroportos. Chego dia 23. Olha cá e nós? Ficamos com o mesmo fuso horário, não.