13/06/2011



É indiscutível que parte, grande parte, da mulher que hoje sou foi moldada no aconchego dos teus braços, da tua pele e do teu cheiro. Afinal eu era uma menina com vinte e um anos e tu assumiste na plenitude o papel que Nabokov criou, em tempos, para Humbert. Estávamos no início da década de noventa e aquele foi um tempo marcado pela descoberta. Contigo percebi que o amor pode vir em espasmos ou em sussurros, que há sentidos que vão mais além do que o toque, que o prazer acossa-nos ao ponto de um murmurado “fode-me” soar a súplica, que um simples olhar é suficiente para nos cortar a respiração. Que numa relação a dois o único limite é o da aceitação das partes e que é possível o controle do ritmo ébrio a que os corpos se movimentam.

Volvidos praticamente quinze anos o tempo é de confirmação. Eu continuo a ser aquela mulher moldada no aconchego dos teus braços, da tua pele e do teu cheiro. E um amor assim pode vir em espasmos ou em sussurros e, de facto, há sentidos que vão muito além do simples toque. E o prazer acossa-nos, é verdade. E o único limite é o da aceitação das partes, sim. E depois a ternura. A ternura dos afectos espelhada em cada olhar. Em cada “quero-te muito” seguido de um abraço onde se sente o bater do coração. E a cumplicidade de quem se lê e se entende mutuamente nas entrelinhas. No que não se disse mas se pensou. No que se quer mas não se confessou. E a serenidade. O saber esperar pelo outro. E a impaciência de querer tudo e agora. E a certeza. A certeza de que uma relação destas é assim uma coisa que só acontece muito de vez em quando.