Era capaz de jurar que tinha apagado todos os teus contactos. Mas, uma vez aqui chegado, confesso que por momentos pensei que bastaria um gesto teu para que o curso dos acontecimentos pudesse ser alterado. Afinal eu ainda te quero. Afinal nós ainda nos desejamos. Afinal ainda pensamos um no outro. Mas não. Numa história pejada de desacertados gestos, eis que era chegado o momento de algo mais revelador, sem margem para dúvidas, sem medos ou subterfúgios, sem meias palavras ou meias letras. Assim, de peito feito, cara a cara. Sem hipóteses académicas, sem ses, sem amarras, sem constrangimentos, sem esperar mais um pouco, sem um eu agora não posso. Não. Era chegado o momento de por uma vez, por uma só vez, teres cumprido o que te ouvi repetir até à exaustão. Aquela foi a tua deixa e tu não a soubeste aproveitar. Como sempre. Como dantes. Cabia-te a ti ter remendado tudo isto. Só que tu não foste capaz de sair dessa tua zona de conforto. Nunca foste. Nunca serás. Nem sabes o quanto lamento. Porque afinal eu ainda te quero. Afinal nós ainda nos desejamos. Afinal ainda pensamos um no outro.
Mas, pensando melhor, não era suposto, nunca foi, tamanha expectativa. As pessoas e as coisas são como são. Eu é que tenho esta mania de achar que não há impossíveis quando o querer fala mais alto, que agora, sim, agora era para valer, só porque fazia sentido, só porque, depois de tudo aquilo por que passámos, agora fazia todo o sentido. Mas não. As pessoas e as coisas são como são. E tu nunca foste pessoa de momentos reveladores, sem margem para dúvidas, sem medos ou subterfúgios, sem meias palavras ou meias letras. Nem sabes o quanto lamento.