Tem dias em que despudoradamente te invejo. Não a descrença que trazias quando aqui chegaste, não a desconfiança que te era inerente, não o egoísmo que te caracterizava, não essa amargura dos descrentes mas o desprendimento. Tem dias em que invejo esse teu desprendimento, quase desprezo, quase indiferença. Essa capacidade de não olhar para trás, de seguir em frente sem remorsos, sem qualquer consciência analítica, sem lamentar o que quer que seja. Esse chegar e esse partir, assim, tão simples. Como se nada fosse, como se não tivesse corrido uma década, como se as relações se sucedessem, como se o outro já não o fosse e, assim de repente, seria só mais um, como se as pessoas não tivessem feito parte dos planos umas das outras. Esse chegar e esse partir, assim, tão simples quanto isso.