O meu irmão namora com uma moça checa [bem gira, por sinal, a avaliar pelas fotos que hoje exibiu junto da família]. A minha mãe anda enervada com a situação, pois que só fala português e nem pensar, com esta idade, ir aprender inglês e agora como é que vai fazer para comunicar com a rapariga, como é que se ensina uma checa a fazer um cozido à portuguesa ou uma feijoada, que a moça tem, porque tem, que ir aprender a falar português porque sogra que é sogra tem sempre coisas para ensinar a uma nora, que isto não é assim, não é chegar, levar-lhe o filho e nem haver uma palavrinha, uma orientação. O meu pai foi comprar um livro de espanhol básico para a checa. Que sim Sr., até se entende que a moça não consiga aprender a nossa língua, porque afinal até é uma língua difícil, mas se a checa falasse espanhol nós já a conseguíamos entender mais ou menos.
A minha mãe lembra-se então dos pais da moça e sai mais uma crise de nervos. Atira com a travessa de macarrão para cima da mesa e de colher de pau em riste começa a gesticular fervorosamente. E os outros? Pois que se a moça é checa, os outros [pais da checa] também o serão e depois como é que as pessoas se vão entender, uns a falar português, outros a falar checo e nós [eu, o meu irmão e a checa] em inglês, que tudo isto é muito confuso e depois um dia o casamento, onde é que estão a pensar em casar, que está fora de questão meter-se num avião, e os netos, que sim Sr. até podem ser loiros e de olhos azuis mas onde vão nascer as crianças e nem pensar em ter netos que não falem português.
O meu pai, atendendo ao estado de pré apoplexia da mulher, oferece-se logo para comprar mais uns livros de espanhol básico para a família da checa, porque assim como assim quando estivéssemos todos juntos já dava para dizer um “Hola cómo te llamas?” mas vai adiantando que quem quiser entrar na família terá que ser alvo de uma inspecção prévia, porque a família é coisa séria.
O meu irmão já a recolher as fotos, já a dizer que o melhor é começarmos a jantar, porque depois o comer arrefece e que isto com a checa não é assim nada sério, que afinal até já nem sabe muito bem se aquilo é coisa para a vida toda, que ainda é muito novo. Eu, a rebolar-me no chão de tanto rir, só consegui antever um fim trágico para a coisa e vaticinar que a coitada da checa já está fodida e nem sonha.